Resumo
O sofrimento tem despertado crescente interesse em pesquisas sobre narrativas jornalísticas. Tais estudos dão um enfoque privilegiado ao telejornalismo e ao fotojornalismo e discutem, sobretudo, o sofrimento ocasionado por catástrofes ou conflitos armados. Neste artigo, busca-se compreender as estratégias narrativas mobilizadas pelo jornalismo impresso para constituir e retratar cenas de sofrimento ligadas ao trabalho infantil doméstico, considerado por organizações sociais uma das atividades nas quais crianças e adolescentes são mais oprimidas. Parte-se da discussão da “política da piedade” (Arendt) e da “narratividade jornalística” (Motta; Casadei) como fundamento teórico para a análise de exemplos de apropriações jornalísticas do sofrimento, considerando dois aspectos: a configuração narrativa de cenas de sofrimento e o posicionamento dos sujeitos sofredores nos relatos dessas experiências. Importa-nos, no que pode remanescer da política da piedade, a persistência das narrativas jornalísticas de sofrimento e a constituição de cenas em que figuram sujeitos sofredores.
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